Mas a intransigente verdade me força a confessar que, escrevendo esse período da carta a Bernardo Pindela, eu não pensava no autor da Corja. Se eu quisesse acusar dessa abjecta concessão, às exigências da venda, um homem que há trinta anos é ilustre na literatura portuguesa – teria escrito o nome todo de V. Exª, sem omitir um só título. Há personalidades a quem por isso mesmo que são fortes, se não alude timoratamente e de longe. Já deste modo se pensava na corte de el-rei Artur. «Se queres falar de Percival, diz bem alto: Percival, e tira a espada». Assim gritava esse cavaleiro, flor dos bons, na velha cidade de Camerlon, uma tarde em que havia algazarra e ciúmes junto a Távola Redonda. Não se trata, decerto, aqui, de compridas espadas a desembainhar. Mas não deixa de ficar bem a um débil homem de letras, como eu, o seguir essa lição de lealdade e valor dada pelo possante homem de armas Percival.
Assim o exemplo aduzido por V. Exª, para demonstrar o meu escandaloso hábito de implicar consigo – é realmente mal escolhido. Mas permanece, todavia, a queixa, feita ao público com tanta rabuge e tanto azedume, de que – eu e os meus amigos, sempre que isso vem a talho de foice, lhe assacamos aleivosias.
Aleivosia é um termo formidável e sombrio que, se me não engana o vetusto e único Dicionário