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eu fui assaltado por seis ou sete pessoas, que me travavam do braço, me arrastavam para a esquina, para me perguntar ansiosamente: «Quem é uma certa Rhoda Brougton que escreve romances?» E eu ia já indignar-me, pensando que isto era uma scie montada contra mim, quando soube que o Figaro da véspera tinha um artigo sobre a graciosa e fina criadora da Família Maubrey.

Da rica e grande literatura da Alemanha, podemos dizer, como o meu amigo: nem um nome a citar, nem uma linha a lembrar! E se agora conhecemos alguns romances russos, é porque «estão à moda» no Boulevard.

Mas, pergunto eu, este collage com a França, esta imitação, esta preocupação da França, é uma tendência fatal, necessária, de temperamento, de congeneridade, de similitude, a que não possamos escapar, como a Dinamarca não pode escapar a imitar a Alemanha, e a Bélgica se não pode eximir a imitar a França? Não creio. O dinamarquês é um alemão desbotado. A Bélgica é uma edição barata da França. Mas não há similitude alguma de temperamento, de feitio moral entre nós e a França. Nada mais diferente de um francês do que um português; nem eu compreendo que satisfação, que gozo possa achar o espírito português em se nutrir, em se banhar nas criações do espírito francês. A França é um país de inteligência;