Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/507

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quadros burgueses, em que os donos de forjas, empreiteiros, proprietários de armazéns de retalho, toda uma classe industrial, aparecem com os sentimentos de cavalheirismo, orgulho, heroísmo, romantismo, que essa pequena burguesia estava habituada a admirar secretamente na classe aristocrática, na gente de privilégio e de espada, nos grands seigneurs! É depois o Sr. Bourget, um parisiense com um ligeiro toque de inglesismo, como pede a moda, que leva para o Faubourg St. Germain, num fiacre, os seus métodos de Psicologia, de uma psicologia que cheira bem, que cheira a opopánace, e tomando uns ares infinitamente profundos, remexe os corações e as sedas das senhoras, para nos revelar segredos que todo o mundo sabe, num estilo que todo o mundo tem.

Por outro lado, gesticulando violentamente, há um pequeno grupo de extravagantes, que se estorcem, se esfalfam para achar alguma coisa inesperada que faça deter os badauds no Boulevard que, com efeito, espantam por vezes como saltimbancos muito destros, mas que no momento em que findam as suas cabriolas, arquejando, são esquecidos pelo homem sério, que pára a olhar, e que passa. Tudo isto é Francês, especialmente nascido das condições especiais de Paris, e não vejo o que aqui tenha a admirar ou a imitar um bárbaro honesto que vive para cá dos Pirenéus. E de todos estes romancistas,