O bom lenhador então já lhe não dizia ao partir para a mata: “Cristóvão, não saias da nossa horta, que te pode vir mal”. E pouco a pouco começou então a percorrer, maravilhado, os prados, as bordas do rio, os densos arvoredos, para que tantas vezes da porta da cabana se tinham alongado os seus olhos pasmados e vagos. Lento e incerto, como uma rês tresmalhada, descia pelos caminhos abertos, orlados de sebes, parando a cada passo, ficando a pasmar para os trigais altos, para os longos prados, macios e doces à vista como veludo verde, todos avivados de margaridas, papoulas e botões-de-ouro; cortando pelos choupais, ia admirar, durante longas e mudas horas, o correr e o brilhar do grande rio; ou penetrava sob os pinheirais, onde se esquecia até o entardecer, vago e pensativo, respirando com espanto e amor a frescura, o silêncio e o aroma das resinas. Depois recolhia à cabana devagar, com os braços caídos, a face no ar, risonha e contente.
De noite sonhava com ramagens tenras que lhe acariciavam a face, com águas claras e frias que fugiam, cantando, entre os seus pés nus, enterrados na areia. E quando de manhã outra vez, fechando o loquete de pau da cabana, descia para os campos, era em todo o seu coração como um desejo de abraçar, num abraço inteiro, toda a terra que via, desde as flores