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se sumiu sentiu por trás um gemido: voltou-se: - o pai estava com a cabeça caída contra a parede da casa, a mão sobre o coração. De noite, os gritos de Cristóvão atroavam na aldeia. Vieram homens com forquilhas, mulheres encolhidas nos mantéus, erguendo, diante da face, uma lanterna. O cadáver estava estirado no chão sob um lençol. E à porta, que enchia com seu vasto corpo, Cristóvão chorava estridentemente.

Dois dias, duas noites, Cristóvão ficou estendido à porta com a face contra o chão: por vezes um soluço sacudia-o todo; depois a sua imensa forma era tão imóvel como os roncos em redor, derrubados e rígidos. O Inverno e a fome tinham espalhado pelos caminhos gente sinistra, que assaltava os casebres. Um bando veio sutilmente numa dessas noites: e, penetrando pela janela aberta, roubou tudo dentro, os vestidos, as ferramentas, o grão da arca, as roupas do catre – enquanto prostrado, Cristóvão ressonava lentamente, como o ruído de um rio na escuridão.

De manhã, vendo o casebre vazio, Cristóvão desarraigou um choupo novo, limpou-o de todos os ramos, e apoiando-se ao vasto tronco subiu pelo monte, desapareceu.