que tilintavam perderam-se pelas quebradas.
Então, um frio estranho, um frio que ele não compreendia, que não vinha do vento, nem da neve, arrefeceu Cristóvão até o coração. E, através da sua simplicidade, sentia que não teria tanto frio, se ouvisse outras vezes vozes humanas, e os passos de animais conduzindo fardos, e uma fogueira acesa por mãos de homens.
Começou então a percorrer a serra, os desfiladeiros, os barrancos, os vales, os bosques, as rochas que conhecia. E de cada vez aquela sensação de frio o mordia tanto, e tanto, que subitamente se sentiu como exausto: a cabeça pendeu-lhe entre as mãos e grandes lágrimas rolaram-lhe pela face. A tarde caía; a noite veio, cheia de estrelas. E Cristóvão, imóvel, sentia, através das lágrimas, surgirem-lhe como visões de coisas desvanecidas, uma velha carregada de lenha, e arquejando sob o fardo; crianças que não podiam passar um rio; uma junta de bois que não podia puxar um carro carregado e pedras. E um desejo imenso vinha-lhe de sacudir aquele frio, trabalhando, carregando o fardo da velha, ajudando a junta de bois. Tomou o seu cajado e começou a descer a serra.