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Página:Ultimas Paginas (Eça de Queirós, 1912).djvu/84

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por causa dos espinhos das sebes. Como voltava da igreja, trazia um livro na mão. As suas duas tranças louras caíam-lhe pelos ombros. As longas pestanas, dos seus olhos baixos, faziam-lhe uma sombra na face da cor e doçura de uma rosa branca. E junto da sua escarcela soavam as tesouras, as chaves, o dedal, pendentes da cinta por correntes de prata. O bom estudante dobrava diante dela o joelho: e tomando-a pela mão delicada, caminhava com ela pelo bosque, parando para lhe tirar, da orla do vestido, as silvas que se lhe prendiam. Ela tinha sempre para Cristóvão um sorriso, a que se misturava o brilho dos seus olhos: e ele de pé, vigiando o caminho, ficava pensando naqueles olhos que lhe pareciam estrelas. No arvoredo em torno cantavam as aves: um aroma de verduras, de pinheiros, de madressilvas, flutuava no ar: e por vezes os passos de uma corça roçavam por entre a espessura das faias tenras. E Cristóvão, apoiado a um forte cajado, lançava os olhos em redor, pelo vale. Mas ninguém se aproximava da torre derrocada. E ele, pouco a pouco invadido pela doçura da tarde, pensava em doçuras que recebera – na carícia das mãos de sua mãe sobre a grenha crespa, nas festas das crianças que por vezes sem medo lhe trepavam aos joelhos. Uma melancolia tomava-lhe o peito. E, na sua vaga ternura, desejava apertar contra si todo aquele vale,