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Dizei vós: “Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Verdes, mas sem esperança,
Davam amor sem amar!”
Dizei-o vós, meus amigos,
          Que, ai de mi!
Não pertenço mais á vida,
          Depois que os vi!

Basta, porem, de olhos! A viagem é longa, atravez do mappa feiticeiro. Depois dos olhos, a boca: ninho da voz, fonte suprema da ternura, onde a alma gorgeia, pede, ruge, chora e pragueja, — onde residem os sorrisos, o sorriso timido do amor que não ousa, o sorriso provocador da tentação que exige, o sorriso frio do desdem que humilha, o sorriso insolente do motejo que mata, — e onde moram os beijos, caricia extrema, fala muda do amor, delirio que não cansa, delirio, que, como disse Guimarães Passos, tem de ser infinito para ser bom:

Um beijo mata, é verdade!
Porem outro beijo cura:
E’ o caso da mordedura,
Da mordedura do cão;
Um só, transtorna a cabeça:
Mas, se um em cima se emitte,
Provoca mais o apetite,
E faz bem ao coração...