Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/128

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desenhador de armazém: e aqui, depois, a pobre mulher precisa de reformar o corpo, obra do seu bom

Deus — para o acomodar ao figurino, obra do seu mau jornal. De modo que para susten-tar o chapéu deforma-se a cabeça; para obedecer ao puff torce-se a espinha; para satisfazer às botinas Luís XV desconjunta-se o pé; para seguir o chique das cintas baixas destrói-se o busto. Nunca como hoje, sob o domínio da democracia, se des-prezou, se deteriorou tanto o corpo humano. Não é com a intenção mística daquela santa que cortou o nariz para aniquilar as glórias mortais da sua beleza! Não! Hoje mais que nunca se glorifica a beleza, e o corpo é o fim supremo. Somente não se aceita o corpo que a natureza dá — e procura-se aquele que se vende nas modistas. Ah! onde estão os tempos em que a beleza era como uma santidade! em que a vida toda era uma educação e idealização do corpo! em que se erguiam estátuas às nudezas maravilhosas! em que o desfigurar um homem era punido com as velhas leis bárbaras do sacrilégio! e em que o ateniense, nas conversas dos pórticos ou nos peristilos dos banhos — se ocupava menos da invasão de Xerxes do que do corpo de Lais! Veja-se então que racional, bela, harmónica toilette. Uma larga túnica de Linho, de amplas pregas, que deixava o corpo livre, inoprimido, em toda a bela originalidade das