Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/135

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e beijada — começa a ter certos sorrisos, a espreitar com um certo disfarce malicioso, a ter umas ternuras de andar, um modo de se retrair, de se recusar, que há-de fazer corar por vezes o seu anjo da guarda. Desabrocham então as pequeninas simpatias, cheias de mistério.

Uma deu um dia a um nosso amigo um amor-perfeito, em segredo, pedindo-lhe que o guardasse. Tinha nove anos. São graças, leves como fios. Mas a vaidade infiltra-se na alma, gota a gota, e cria no fundo aquele lago imóvel, negro e resplandecente, onde, segundo os Místicos, habita e se move o Pecado.

Ao mesmo tempo vai-se-lhe ensinando o catecismo e a doutrina. É a educação moral. A pequerrucha aprende a persignar-se, a ajoelhar com gravidade, a recitar o padre-nosso. Depois, seguidamente, decora todas as orações da cartilha. E termina por papaguear a Doutrina correntemente, de cor, e salteada, como a tabuada ou como as capitais da Europa — mas sem a menor compreensão, sem ligar uma ideia sua às palavras mortas, sentindo através delas um certo terror — porque se trata de Deus e segundo lhe ensinam é Deus quem manda as trovoadas, as doenças, a morte.

Ora para que se ensina a religião a um homem ou a uma mulher? Para lhe dar um guia para a sua consciência e um guia para a sua inteligência; uma