Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/163

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que é hoje dominante no espírito do beatério.

O beato, a beata, na religião, não respeitam a divindade, respeitam o sacerdote.

Não prestam culto ao Deus, prestam culto ao padre. Para espíritos embrutecidos, tais como os forma a devoção fanática, Deus é alguma coisa de incompreensível, de vago, de perdido no fundo dos Céus: pelo contrário o padre é o sempre presente e o sempre visível. E o padre que os confessa, os comunga, os penitencia, os doutrina, os guia. De sorte que, lentamente, todo o poder, toda a sabedoria, toda a santidade a atribuem ao padre. Deus está num indefinido misterioso, na profundidade dos firmamentos: o padre está ali, na sua rua, ao pé da sua casa, sempre pronto, e torna-se assim um Deus ao alcance dos sentidos e ao contacto da mão. Veja-se uma beata ou um beato diante de um padre: beija-lhe a mão com temor, conserva os olhos baixos e aterrados, respeita-lhe a casa como um templo; se entra a porta faz mesura como diante do sacrário, não se atreve a contradizê-lo — como à mesma sabedoria; julga-o impecável, cândido e perfeito; e toda a filosofia, desta adoração profana, está no grito pavoroso daquela beata:

«ai! maldita seja eu, que sem saber, enxotei o gato do senhor abade!