Página:Uma campanha alegre v2 (1891).pdf/41

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para fazer eleições; — a Igreja portanto condena completamente o tráfego eleitoral.

Tem pois o Governo a escolher entre fazer eleições, o que lhe atrai a reprovação da Igreja, ou contentar a Igreja, o que lhe traz a perda do poder! Porque ter depois de morto a glória do Céu, e em vivo a delícia de gozar como deputado o Sr. Melício — não pode ser!

Tem de escolher entre Melício para a câmara e o Céu para a bem-aventurança. Se, para ganhar o Céu, repele Melício com pudico e místico meneio — perde um formoso apoio: e se, para ter esse voto considerável, acolhe Melício com amoroso braço, rasgam-se- lhe sob os pés as fendas do abismo teológico.

Tem de decidir — entre o Céu e a maioria. Devoto, perde as eleições; eleitoral, perde o Paraíso. Ou S. Pedro ou Melício.

Melício está-lhe de frente, com todas as apetitosas atracções da maçã proibida, nas manhãs do Paraíso. Se estende mão ávida para colher Melício, Satã, o terrível comissário civil do abismo, deita-lhe a mão à gola do casaco: se se afasta, e deixa, sem o colher, Melício baloiçando-se na ponta do ramo verde, perde um voto imenso. E enfim o Céu é o Céu, mas um Melício é um Melício. Que fazer? colher Melício? — é o ranger de dentes. Deixar Melício nas árvores para que os pardais o