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Página:Ursula (1859).djvu/101

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A dor do seu coração feriu o meu, e o seu sangue tingiu-me os vestidos. Esse ato de inútil crueldade faz-me aborrecer-vos.

— Senhora! – retrucou ele. – Que infelicidade! Incorrer no vosso desagrado! mas...

— Mas, senhor, – interrompeu ela impacientando-se – que pretendeis?

— São loucas as minhas pretensões, senhora, sim, loucas; porque se me animasse a confiar-vo-las, o vosso desprezo ia talvez esmagar-me. Permiti que me conserve em silêncio, que nada tem ele de ofensivo para vós.

— Pois bem, – disse ela – guardai-o muito embora; mas deixe-me em nome do céu.

— Deixar-vos?!... Oh! Não, mil vezes não! E cedendo a um excesso de apaixonada loucura, ou de amoroso delírio, curvou-se ante Úrsula, pálida de aflitiva angústia e de antipático horror.

— Úrsula! Úrsula – continuou com acento arrebatado. – Oh! não me desdenheis, não me acabrunheis e desespereis com o vosso rancor. Se me amardes, no meu amor encontrareis a felicidade; porque agora sou vosso escravo. Nunca o tereis mais humilde, mais dócil, acreditai-me. Nunca amei, e julguei mesmo, – louco que eu era! – julguei no meu orgulho estúpido que nunca amaria mulher alguma. Destruístes a minha ilusão. Vi-vos, e um amor apaixonado, como um filtro venenoso, se me derramou na alma. Nunca supliquei, e agora eis-me súplice, humilhado na vossa presença: na presença de uma menina!

— Úrsula, – continuou – oh! Pelo céu, acreditai-me. Amo-vos. Apenas há um momento que vos conheço e parece que há um século que vos idolatro. É ardente