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Página:Ursula (1859).djvu/122

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harmoniosas despedidas do rei do dia e o frouxo brilho da deusa caçadora, mais poética magia difundia no espírito daquele que a essa hora encantadora e melancólica os atravessasse com o coração tranquilo.

Silencioso e ermo estava então o cemitério de Santa Cruz, e só o vento, que silvava entre o arvoredo ao longe, e que mais brando gemia tristemente nessa cidade da morte, é que quebrava a solidão monótona e impotente desse lugar do esquecimento eterno!

Esquecimento! Encontrá-lo-emos acaso? Essas dores, que nos retalham o coração, serão porventura esquecidas, dormirão acaso no fundo do sepulcro? Quem sabe?! Quem no-lo poderá afirmar!? Deus. Só Deus o sabe, e os seus arcanos são incompreensíveis. O morto dorme o sono eterno, e a sua campa é muda como os seus lábios!

O sepulcro recebe o segredo do morto, e guarda-o, e o não revela!

E o que vive, diz:

O morto repousa sob a lousa, seu corpo reduz-se a terra, e a paz e o esquecimento das dores humanas, que ele há tanto anelava, lhe oferece a morte.

Oh! Passam-se os séculos, e ele não volve! É sempre mudo, e frio como a terra, que em borbotões se derramou sobre ele!

Simples e quase nu era esse cemitério de Santa Cruz – como devera ser a última morada do homem.

A vaidade não tinha franqueado o seu liminar, aí não havia mausoléus, nem floreadas campas, mas uma capelinha singela e pobre e a cruz com os seus braços distendidos, protegendo as cinzas dos que eram pó, e denunciando que na vida seguiram a sublime religião