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Página:Ursula (1859).djvu/124

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Ela beijava o pó da sepultura, e um pranto sentido caía sobre essa terra, e filtrando-se, ia como que despertar do sono eterno aquele coração enregelado pela morte, e que tanto amor lhe havia tributado.

E a lua melancólica e pálida, lançando uma chuva de prateados raios sobre o cume das árvores, e sobre a erva do cemitério, e branqueando os braços negros da cruz, junto da qual estavam a sepultura de Luísa B. e a dolorosa donzela ajoelhada, dava a esse quadro mil encantos de sublime poesia. Os olhos da donzela levantavam-se para esse sagrado estandarte da Fé; porque o coração procurava um auxílio do céu; mas logo a cabeça pendia para a terra, e os lábios roçavam o pó da campa.

Depois a dor – mais viva, mais dolorosa e íntima conturbou-a; seus membros tiritaram, a vista obscureceu-se-lhe, e um gemido saiu do imo peito intenso e dolorido: ...era como se nele lhe viesse a vida. Úrsula caiu desmaiada.

Infeliz donzela! Por que fatalidade viu ela esse homem de vontade férrea, que era seu tio, e que quis ser amado? Esse homem, que jamais havia amado em sua vida; por que a escolheu para vítima de seu amor caprichoso, a ela que o aborrecia, a ela a quem ele tornara órfã, antes de poder avaliar a dor da orfandade? A ela que amava a outrem, cujo nome devia conhecer; porque mais de uma vez o vira no tronco da árvore, enlaçado com o de Úrsula, a ela que toda a sua alma, toda a sua vida pertencia agora a esse jovem cavaleiro?!

A pobre donzela, assim desmaiada, semelhava a flor do prado, que murchou, porque o tufão da tarde a