Página:Ursula (1859).djvu/143

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admiração; porque o comendador era um homem detestável e rancoroso, e o sacerdote parecia ser santo varão.

Por uma singular anomalia, estes dois homens pareciam querer-se, ou suportar-se reciprocamente, e essa união dava-lhes a reputação de íntimos amigos.

Fernando, homem estúpido e orgulhoso, não sabendo sequer exprimir seus próprios pensamentos, e não querendo confiar a alguém que ele julgava inferior a si pela posição, e pelo nascimento – única tábua de salvação, a que se pegava em seu naufragar contínuo de completa ignorância – tinha ido à cidade, suposto que ralado de mortais desconfianças, arranjar os papéis da mais absoluta necessidade, ou para fazer-se incontinente esposo de Úrsula, no caso de ainda encontrar viva a mãe desta menina, ou para, constituído por esta senhora tutor de sua filha, esta não poder escapar à sua vigilância, nem à sua paixão. Como ainda este erro seu era grosseiro!

Úrsula podia deixar de aceitá-lo por tutor, e, ainda aceitando-o, recusar-se energicamente a ser sua esposa. O comendador estava afeito a mandar, e por isso julgava que todos eram seus súditos ou seus escravos.

Já o sol não dominava as regiões da terra, quando Fernando P. apeou-se à porta de sua habitação para dar ligeiramente algumas ordens. Vinha esbaforido e preocupado por um pressentimento, que embalde tentava destruir.

— Talvez eu venha por demais tarde! – ao apear exclamou sem intenção de o fazer; porque era contra o seu orgulho, que não imaginava dificuldades.

Dois negros de cabeça baixa, e humilhados, que lhe vieram