Página:Ursula (1859).djvu/52

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esquecer-te? Poderei viver um só dia sem ver-te? Sem ouvir o harmonioso som da tua voz? Oh! Adelaide... Esse sacrifício fora demais para mim – nunca o farei!... Deixasses embora de amar-me, que ainda assim eu te amaria loucamente.

— E eu, – disse ela com amargura; mas tão baixo que só eu lhe ouvi – triste de mim! amar-te-ei sempre; mas em silêncio – basta que só Deus o saiba.

E um turbilhão de lágrimas borbulharam de seus olhos e sufocaram-na.

— Úrsula... minha Úrsula, – só agora sei que essa mulher mentia, que suas lágrimas eram encadeadas aleivosias e suas palavras refalsadas como o seu coração.

Tresloucado, porque essas lágrimas feriam a minha alma, arranquei-me à triste cena que tão dolorosamente me magoava, e fui procurar meu pai.

Apenas fiz-me anunciar, fui logo introduzido em seus aposentos.

Nesse quarto, onde brilhava o luxo e a opulência, tudo era triste e sombrio.

Cruzava-o meu pai com passos rápidos e incertos; seus olhos refletiam o ódio que lhe dominava nesse momento o pensamento. Notei que suas feições estavam transtornadas, e que baça palidez lhe anuviava o rosto. Semelhava o leão ferido, que despede chama dos olhos, e eu julguei que ia prorromper em insensatos brados. Enganei-me.

Apenas viu-me, serenou um pouco, assentou-se, e acenou-me para a cadeira, que estava ao lado.

Houve então um momento de profundo silêncio, nesse momento, meu pai observava atento minha fisionomia,