Oh! É um custoso e amargo sacrifício, é um ano de separação arrastado no exílio! Este ano é um século de desesperação.
— Meu Deus! – exclamou minha pobre mãe com acento tão doloroso, que me estalou o coração de mágoa – É mais uma prova, Senhor, que me enviais!
— Meu filho, – continuou – esta separação será talvez eterna!
Muitos dias não eram passados, quando eu em pé no meio do salão de meu pai, com os braços cruzados sobre o peito, que sentia partir-se de dor, observava em silêncio a agonia íntima dessas duas mulheres que, na derradeira despedida, semelhavam dolorosas estátuas de Níobe.
Adelaide reclinava-se nos braços de minha mãe, pálida como a açucena pendurada na corrente; e essa mulher cheia de bondade e de virtude esforçava-se por consolá-la de uma dor, que só nela era real; mas que supunha igual na donzela, que um dia seria minha esposa.
Com mágoa comparei então o semblante pálido e emagrecido dessa mulher de alma tão heroica e santa, com o seu retrato pendente de uma das paredes do salão, e gelei de pasmo e de angústia. O pintor havia aí traçado uma beleza de dezoito primaveras.
As madeixas de seus sedosos cabelos molduravam-lhe as faces brancas de neve, e as rosas eram tão débeis que as tingiam apenas de ligeira cor. Sua fronte altiva e nobre coroava uns olhos ternos e expressivos, e os lábios acarminados, onde pairava angélico sorriso, deixava meio perceber-se dois renques de alvíssimas pérolas.