Página:Ursula (1859).djvu/80

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habita as nossas vizinhanças desde que morreu meu marido, e jamais nos tem incomodado.

— O comendador habita estes arredores? – perguntou o cavaleiro.

— Sim, senhor – a fazenda de Santa Cruz está a meia légua de nós.

— E eu tenho-lhe tanto horror, – disse Úrsula a tremer – que mal posso suportar a ideia de que estejamos sempre tão próximas dele. Parece-me que esse homem ainda me há de ser funesto. E algumas lágrimas lhe orvalharam as faces.

— Pelo céu, minha filha, – disse a mãe angustiada – essas lágrimas me matam. Não, eu quero ver-te risonha e feliz.

— Sim, feliz! – interrompeu o mancebo tão comovido que tocou o coração de Luísa B. – Contai comigo, senhora, vossa filha há de ser feliz, prometo-o sob juramento.

— Vós!... – interrogou a pobre a mãe, sem atinar verdadeiramente com o sentido destas palavras proferidas com tanto fogo.

E o jovem cavaleiro tornou-lhe:

— Sim, minha senhora, eu; porque amo-a, e como o meu amor não poderá jamais arrefecer, juro-vos em nome do céu, que nos escuta, que Úrsula será a mais venturosa de todas as mulheres, se anuirdes aos meus desejos.

Luísa B., reduzida à última miséria, e descobrindo nas maneiras de seu hóspede os sinais de um nascimento distinto, assim como o esplendor de uma próspera fortuna, julgou-se vivamente ofendida por aquelas palavras proferidas com tanto arrebatamento, e que aos seus ouvidos pareceram insultuosa ofensa; e ressentida, envergonhada, e quase