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RELICARIO
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Berta, correndo, inutil tentativa,
Atraz de um colibri de lindas cores,
Vendo-o fujir, dizia pensativa:
«Ha corações como esse beija-flores...»

Eu, distraído, tímido, a seguil-a,
Mal a escutava: respirava a arajem,
E vagamente, numa voz tranquila,
Ia fazendo a critica á paizajem.

E o seu olhar azul e intelijente,
Limpido como um ceu de primavera,
Nos meus olhos pouzava, descontente,
Como quem faz uma pergunta, e espera...

Voltámos... Pelos múrmuros caminhos,
Por entre as mesmas sombras deliciozas,
Cheias dos mesmos canticos dos ninhos,
Cheias do mesmo bálsamo das rozas,

Berta, as palavras, tímida, continha,
E quando, agora, tremulo e indecizo,
Sorrindo o labio se lhe abria, vinha
Um suspiro entre as rozas do sorrizo.