amuada, quando vi voltar para a Azambuja
o nosso commodo vehiculo, e deante de mim a
infezada mulinha asneira que — ai triste! — tinha
de ser o meu transporte d’alli até Santarem.
Emfim o que hade ser, hade ser, e tem muita
fôrça. Consolado com este tam verdadeiro quanto
elegante proverbio, levantei o
ânimo á altura da
situação e resolvi fazer próva de
homem forte e
supportador de trabalhos. Bifurquei-me resignadamente
sôbre o cilicio do esfarrapado albardão,
tomei na esquerda as impermeaveis redeas de
coiro cru, e lancei o animalejo ao seu mais largo
trote, que era um confortavel e amenissimo
choito, digno de fazer as delicias do meu respeitavel
e excentrico amigo, o marquez do F.
Tinha a bossa, a paixão, a mania, a furia
de choitar aquelle notavel fidalgo — o último fidalgo
homem de lettras que deu ésta terra. Mas
adorava o choito o nobre marquez. Conheci-o em
París nos ultimos tempos da sua vida, ja octogenario
ou perto d’isso: deixava a sua carruagem
ingleza toda mollas e confortos para ir passear
n’um certo cabriolet de praça que elle tinha marcado
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