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meu crime. Rasguei-lhe o coração, e vi-lhe sahir sangue e agua pelos olhos, até que lhe cegaram. Que mais queres? Cuidei que podia morrer sem passar por ésta derradeira expiação. Deus não o quiz. Aqui estou penitente a teus pés, filho. Aqui está o assassino de tua mãe, de seu marido, de teu tio... o algoz e a deshonra de tua familia toda. — Faze de mim como fôr tua vontade. Sou teu pae...’

— 'Meu pae!.. Misericordia meu Deus!'

— 'Misericordia, filho, e perdão para teu pae!'

Carlos levantou-se deliberadamente, veio ao velho, tomou-o a pêso nos braços, foi sentá-lo na cadeira que acabava de deixar, e pondo-se de joelhos, beijou-lhe a mão em silencio. Depois foi abraçar-se com a avó, que o apalpava soffregamente com as mãos trémulas, e murmurava baixo:

— 'Agora sim, ja posso morrer, ja posso morrer porque o abracei, porque o senti juncto a mim, o meu filho, o filho da minha filha querida...'