em verdade não sei explicar a impressão que me
faz uma ruina n’este estado. Desaffinam-me os
nervos, vibram-me n’uma discordancia e dissonancia
insupportavel. Queria ver antes estes altares
expostos ás chuvas e aos ventos do ceo, — que
o sol os queimasse de dia, — que á noite, á
luz branca da lua, ou ao tibio reflexo das estrellas,
piasse o mocho e sussurrasse a coruja sôbre
seus arcos meio-cahidos.
Não me parecia profanado o templo assim, nem descahido de majestade o monumento. Podia ajoelhar-me no meio das pedras sôltas, entre as hervas humidas, e levantar o meu pensamento a Deus, o meu coração á glória, á grandeza, o meu espirito ás sublimes aspirações da idealidade. O material, o grosseiro, o pesado da vida não me vinham affligir ahi.
Deus, a idea grande do mundo — Deus, a Razão Eterna — Deus, o amor — Deus, a glória — Deus, a fôrça, a poesia e a nobreza d’alma — Deus está nas ruinas escalavradas do Colliseu, como nos zimborios de bronze e marmore de San’Pedro.