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Telles é um sarcophago de pedra branca, fina e friavel, elegante e simplesmente cortada, com mais sobriedade de ornatos do que tem de ordinario os monumentos do seculo XIV, mas de uma acabada sculptura, casta e continente, como o não foi a vida do rei que ahi incerraram depois de morto.

Percebem-se ainda vestigios das vivas côres em que foram induzidos os relevos da pedra branca: — stylo byzantino de que não sei outro exemplar em Portugal. Este é — ou antes, era — precioso.

Era; porque a brutalidade da soldadesca o deturpou a um ponto incrivel. Imaginou a estupida cubiça d’estes Allanos modernos que devia de estar alli dentro algum grande haver de riquezas incantadas, — talvez cuidaram achar sôbre a caveira do rei a coroa real marchetada de perolas e rubis com que fosse interrado, — talvez pensaram incontrar appertado ainda entre as sêccas phalanges dos dedos myrhados, aquelle globo de oiro macisso que lhes figura o rei d’espadas do sujo baralho de sua tarimba, e que elles teem pela indisputavel e infallivel insignia do