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Passaram mais tres seculos e meio; e no anno de 1644 a camara de Santarem mandou refazer de cantaria lavrada o ditto marco ou pedestal que não era senão de alvenaria, e pôr-lhe em cima a imagem da sancta.

Ainda lá está, assás mal cuidado com tudo; lá o vi com estes olhos peccadores no corrente mez de julho de 1843. Mas, sem milagre nem orações, o rio tinha-se retirado, havia muito, para um cantinho do seu leito, e o padrão estava perfeitamente em sêcco, e em sêcco está todo o anno até começarem as cheias.

Tal é, em fidelissimo resummo, a historia da Sancta Iria dos livros.

A das cantigas é, como ja disse, muito outra e muito mais simples, conta-se em duas palavras. A sancta está em casa de seus paes; um cavalleiro desconhecido, a quem dão pousada uma noite, levanta-se por horas mortas, rouba a descuidada e innocente donzella, foge a todo o correr de seu cavallo, e chegado a um descampado d’alli muito longe, pretende fazer-lhe violencia... A sancta resiste, elle mata-a. D’alli a annos