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Não me fez esse effeito a mim.

Chegámos á porta do Sol; sentamo’-nos alli a gosar da majestosa vista. É majestosa mas triste. A ribanceira que d’alli corta abaixo, até ao rio, é arida e quasi calva: cobrem-n’a apenas, como a mal povoada nuca de um velho, alguns tufos de verdura cinzenta e grisalha de um arbusto rasteiro, meio frutex meio herbaceo que aqui chamam ’Salgadeira’ e que a tradicção diz ter vindo de Affrica para segurar a terra n’estes taludes e precipicios. O aspecto e hábito da planta é realmente affricano e oriental, não tem nada de europeu. Mas ésta derradeira e occidental parte da nossa Hespanha é, geologicamente fallando, ja tam affrica, tam pouco europa, que não sería necessaria a transplantação talvez; e porventura ficou ésta memoria entre o povo do uso que os moiros faziam da planta para esse fim.

Ésta porta do sol dizem que é onde se faziam as execuções em tempos antigos. Foi bem escolhido o sítio; não o ha mais triste e melancholico. Aopé está um torreão quadrado da muralha que ahi fórma canto para seguir depois na