que tive com ele, conclui que Gonzaga de Sá os achava indispensáveis à revelação dos obscuros, à troca de ideias, ao entrelaçamento das inteligências, enfim, formadores de uma sociedade para os que não têm uma à sua altura, já pela origem, já pelas condições de fortuna, ou para os que não se sentem bem em nenhuma. A sua velhice tolerante refletida compreendia que eu lá fosse, mas a sua misantropia de velho não lhe permitia tomar parte direta no seu ruído. Gonzaga de Sá trajava rigorosamente de preto, conforme seu hábito, mas, em vez de paletot-sacco, trazia a grave sobrecasaca. Era a primeira vez que eu o via com esse traje, tão querido dos doutores e comendadores; e o meu despretensioso amigo aparecia-me, assim, com a respeitabilidade precoce de um jovem ministro. Os seus grandes olhos, macios e lentos, nas órbitas de uma curvatura regular e suave, estavam vermelhos. O resto da fisionomia era calma e os seus gestos não apresentavam modificação sensível. Ao aparecer o venerável velho, os meus amigos calaram-se e, a todos, a sua austera figura impressionou. Levantei-me e falei-lhe à parte. Ele me disse:
— O compadre acaba de morrer... Vim tratar do enterro... Preciso de ti para lhe carregar o caixão. Vem, Machado... Vem, Machado;