Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/134

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todo ele, a olhar nas montanhas longínquas do ocidente, a barra de nuvens douradas, e, enquanto ele durou, mantive-me calado, fumando, e toda a minha atividade cerebral girou em torno da morte. Veio a noite completa. Tinha pensado muito — é verdade; mas sem ter concluído coisa alguma. Nada me ficou palpável na inteligência; tudo era fugidio, escapava-me como se tivesse a cabeça furada. Evaporou-se tudo e eu só sabia dizer: a Morte! a Morte! Era o que restava da longa meditação... Gonzaga de Sá, de onde em onde, vinha até a sala de jantar. Pouco falava. Voltava para junto do cadáver. A sua fisionomia não revelava a mínima dor, e os seus olhos macios e lentos já tinham o brilho normal. Eu me levantei e fui até o quintal. Fora dos meus hábitos olhei o céu, muito estrelado, que tinha a beleza de todos os dias. Quando voltei para junto da janela, estava sentada uma moça. Não a tinha visto entrar.

— Quer o seu lugar? fez-me ela ao ver-me.

— A gosto, minha senhora. Há aqui muitas cadeiras.

Sentei-me imediatamente, como um velho conhecimento de anos comecei a conversar, e ela