Página:Vida e morte de M J Gonzaga de Sá (1919).djvu/169

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só o esquecimento dos seus cânones, dos seus delírios e dos seus preceitos trariam à humanidade o reino feliz da perfeita ausência de todas noções entibiadoras. Seria assim? Não ficariam algumas? Não era mesmo da essência da natureza humana ter cada grupo o seu stock para opor às do vizinho? Não tinham os tupis as suas contra os tapuias; não tinham os portugueses contra estes dois; e os ingleses contra todos eles? Que me importava hoje ter de sofrer com as noções de alguns universitários europeus e a burrice dos meus concidadãos, se amanhã, asselvajado, de azagaia e bodoque, iria sofrer da mesma maneira com as da tribo minha vizinha ou mesmo com as da minha? Levei em tais pensamentos emaranhado minuto a fio. Para mim, afinal, ficou-me a certeza de que sábio era não agir. Que me propusesse a pagar as atuais fontes de sofrimento seria preparar o nascimento de outras, fosse o meu movimento no sentido de continuar a marcha que a humanidade vem fazendo até hoje, fosse no sentido de a fazer retroceder para os dias que já se foram. Tive um louco desejo de acabar com tudo; queria aquelas casas abaixo, aqueles jardins e aqueles veículos; queria a terra sem o homem, sem a humanidade, já que eu