— Curioso é que haja tanta gente obscura capaz de escrever sobre assuntos tão elevados. Conheces algum?
— Nenhum; mas o que te surpreende?!... Há entre nós muito talento. O que não há é publicidade, ou, antes, a publicidade que há é humilhante, além de completamente destituída de vistas superiores.
— Como?
— Muito simplesmente... Analisemos: quais são os meios de publicidade?
— O jornal e a revista.
— ....e o livro, concluiu Gonzaga de Sá.
— O livro também.
— Um jornal, dos grandes, tu bem sabes o que é: uma empresa de gente poderosa, que se quer adulada e só tem certeza naquelas inteligências já firmadas, registradas, carimbadas etc. etc. Ademais, o ponto de vista limitado e restrito dessas empresas não permite senão publicações para os leitores medianos, que querem política e assassinatos. Os seus proprietários fazem muito bem, dão o que lhes pede o público... Se não consultam as médias, têm que lisonjear os potentados, os graúdos, porem-se a serviço deles — gente, em geral, perfeitamente estranha ao tênue espírito brasileiro e que não quer saber de coisas