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Página:Vidas seccas.pdf/138

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Graciliano Ramos

O objecto desconhecido continuava ameaçal-a. Conteve a respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo por baixo das pestanas cahidas. Ficou assim algum tempo, depois socegou. Fabiano e a coisa perigosa tinham-se sumido.

Abriu os olhos a custo. Agora havia uma grande escuridão, com certeza o sol desapparecera.

Os chocalhos das cabras tilintaram para os lados do rio, o odor forte do chiqueiro espalhou-se pela vizinhança.

Baleia assustou-se. Que faziam aquelles animaes soltos de noite? A obrigação della era levantar-se, conduzil-os ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os meninos. Extranhou a ausencia delles.

Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não attribuia a esse desastre a impotencia em que se achava nem percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angustia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: áquella hora cheiros de sussuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Fe-