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Página:Vidas seccas.pdf/172

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Graciliano Ramos

Fabiano estirou o beiço e enrugou mais a testa suada: impossivel comprehender a intenção da mulher. Não atinava. Um bicho tão pequeno! Achou a coisa obscura e desistiu de aprofundal-a. Entrou na casa, trouxe o aiol, preparou um cigarro, bateu com o fuzil na pedra, chupou uma tragada longa. Espiou os quatro cantos, ficou alguns minutos voltado para o norte, coçando o queixo.

— Chi! Que fim de mundo!

Não permaneceria ali muito tempo. No silencio comprido só se ouvia um rumor de asas.

Como era que sinha Victoria tinha dito? A phrase della tornou ao espirito de Fabiano e logo a significação appareceu. As arribações bebiam a agua. Bem. O gado cortia sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado. Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas sinha Victoria largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano percebia o que ella queria dizer. Esqueceu a infelicidade proxima, riu-se encantado com a experteza de sinha Victoria. Uma pessoa como aquella valia ouro. Tinha idéas, sim senhor,