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Página:Vidas seccas.pdf/54

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Graciliano Ramos

Fabiano tambem não sabia falar. Ás vezes largava nomes arrevezados, por embromação. Via perfeitamente que tudo era besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse... Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarellos que espancam as criaturas inoffensivas.

Bateu na cabeça, apertou-a. Que faziam aquelles sujeitos acocorados em torno do fogo? Que dizia aquelle bebedo que se esguelava como um doido, gastando folego á toa? Sentiu vontade de gritar, de annunciar muito alto que elles não prestavam para nada. Ouviu uma voz fina. Alguem no xadrez das mulheres chorava e arrenegava as pulgas. Rapariga da vida, certamente, de porta aberta. Essa tambem não prestava para nada. Fabiano queria berrar para a cidade inteira, affirmar ao doutor juiz de direito, ao delegado, a seu vigario e aos cobradores da prefeitura que ali dentro ninguem prestava para nada. Elle, os homens acocorados, o bebedo, a mulher das pulgas, tudo era uma lastima, só servia para aguentar facão. Era o que elle queria dizer.