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Página:Vidas seccas.pdf/92

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Graciliano Ramos

necessarios. Só tinha um meio de evital-os, a fuga. Mas ás vezes apanhavam-na de surpresa, uma extremidade de alpercata batia-lhe no trazeiro — sahia latindo, ia esconder-se no mato, com desejo de morder cannelas. Incapaz de realizar o desejo, aquietava-se. Effectivamente a exaltação do amigo era desarrazoada. Tornou a estirar as pernas e bocejou de novo. Seria bom dormir.

O menino beijou-lhe o focinho humido, embalou-a. A alma delle poz-se a fazer voltas em redor da serra azulada e dos bancos de macambira. Fabiano dizia que na serra havia tocas de sussuaranas. E nos bancos de macambira, rendilhados de espinhos, surgiam cabeças chatas de jararacas.

Esfregou as mãos finas, esgaravatou as unhas sujas. Pensou nas figurinhas abandonadas junto ao barreiro, mas isto lhe trouxe a lembrança da palavra infeliz. Diligenciou afastar do espirito aquella curiosidade funesta, imaginou que não fizera a pergunta, não recebera portanto o cascudo.

Levantou-se. Via a janella da cozinha, o cocó de sinha Victoria, e isto lhe dava pensa-