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Padres e frades

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Eu não me canso nunca de protestar.

Minha vida há de ser um protesto eterno contra todas as injustiças.

Li agora, nos jornais que o senhor Venceslau Brás, que dizem ser presidente da república, consentiu que padres católicos embarcassem nos navios de guerra nossos, que vão ficar a serviço da Inglaterra. Protesto!

Eu creio (vejam que gosto sempre de falar na primeira pessoa) eu creio que o senhor Venceslau Brás deve saber a Constituição; e, se ele não sabe, muito menos eu e tenho, portanto, o direito de fazer o que quiser. Mas, sei porque a li agora. Vejamos, senhor Venceslau Brás, o Art. 72, Seção II, "Declarações de Direitos", parág. 7: "Nenhum culto ou igreja gozará de subvenção oficial, nem terá relações de dependência, ou aliança com o Governo da União, ou dos Es­tados".

Onde foi, portanto, vossa excelência que é assessorado pela grande inteligência do Hélio Lobo, vulgo secretário da presidência, buscar autoridade para consentir que, nos navios de guerra do Brasil, embarquem padres?

Se vossa excelência julga que isso é uma simples assistência espiritual, tomo a liberdade de dizer a vossa excelência que lá tenho um parente que é simplesmente espiritista, e como tal tem direito a essa assistência, só sendo ela regular­mente feita por um médium vidente da minha amizade.

Outro amigo meu, descendente de uma família hanoveriana, é luterano; eu peço que Vossa Excelência consinta no embarque de um padre luterano. Deixa vossa excelência embarcá-lo?

Um oficial da Marinha, das minhas relações de colégio, é positivista enragé. Deixa vossa excelência embarcar um sa­cerdote positivista?

Eu, senhor doutor Venceslau Brás, sou budista, e, quando embarcar, quero um bonzo ao meu lado, mesmo que seja o Pelino Guedes. O que esses padres querem é solidificar a burguesia, à custa de fingir caridade e piedade.

Mas eu fico aqui sempre com os meus protestos.

Lanterna, 23-3-1918