Paráfrase de Baudelaire

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Assim! Quero sentir sobre a minha cabeça
O peso dessa noite embalsamada e espessa...
Que suave calor, que volúpia divina
As carnes me penetra e os nervos me domina!
Ah! deixa-me aspirar indefinidamente
Este aroma subtil, este perfume ardente!
Deixa-me adormecer envolto em teus cabelos!...
Quero senti-los, quero aspirá-los, sorvê-los,
E neles mergulhar loucamente o meu rosto,
Como quem vem de longe, e, às horas do sol posto,
Acha a um canto da estrada uma nascente pura,
Onde mitiga ansioso a sede que o tortura...
Quero tê-los nas mãos, e agitá-los, cantando,
Como a um lenço, pelo ar saudades espalhando.
Ah! se pudesses ver tudo o que neles vejo!
- Meu desvairado amor! meu insano desejo!...

Teus cabelos contêm uma visão completa:
- Largas águas, movendo a superfície inquieta,
Cheia de um turbilhão de velas e de mastros,
Sob o claro dossel palpitante dos astros;
Cava-se o mar, rugindo, ao peso dos navios
De todas as nações e todos os feitios,
Desenrolando no alto as flâmulas ao vento,
E recortando o azul do limpo firmamento,
50b o qual há uma eterna, uma infinita calma.

E prevê meu olhar e pressente minh'alma
Longe, - onde, mais profundo e mais azul, se arqueia
O céu, onde há mais luz, e onde a atmosfera, cheia
De aromas, ao repouso e ao divagar convida,
- Um país encantado, uma região querida,
Fresca, sorrindo ao sol, entre frutos e flores:
- Terra santa da luz, do sonho e dos amores...
Terra que nunca vi, terra que não existe,
Mas da qual, entretanto, eu, desterrado e triste,
Sinto no coração, ralado de ansiedade,
Uma saudade eterna, uma fatal saudade!
Minha pátria ideal! Em vão estendo os braços
Para teu lado! Em vão para teu lado os passos
Movo! Em vão! Nunca mais em teu seio adorado
Poderei repousar meu corpo fatigado...
Nunca mais! nunca mais!

Sobre a minha cabeça,
Querida! abre essa noite embalsamada e espessa!
Desdobra sobre mim os teus negros cabelos!
Quero, sôfrego e louco, aspirá-los, mordê-los,
E, bêbedo de amor, o seu peso sentindo,
Neles dormir envolto e ser feliz dormindo...
Ah! se pudesses ver tudo o que neles vejo!

Meu desvairado amor! Meu insano desejo!