Pastores da nossa aldeia (ortografia atualizada)
Pastores da nossa aldeia,
Os três reis acompanhai;
Ora pois correi, ora pois andai.
Que vêm a ver o Menino,
Que é retrato de seu Pai.
Vinde, vereis tanta glória,
Vinde depressa, acabai;
Ora pois correi, ora pois andai.
Porque uma estrela famosa
Guiando os monarcas vai.
Ao belo Infante nascido,
A festa alegre guiai;
Ora pois correi, ora pois andai.
Pois o adoram por seu Rei,
Por vosso Rei o adorai.
Das dádivas, que lhe ofertam
Tanta grandeza admirai;
Ora pois correi, ora pois andai.
E pois tesouros lhe oferecem,
Os corações lhe ofertai.
Olhai que chora o Menino.
Vinde, seu pranto alegrai;
Ora pois correi, ora pois andai.
O seu choro é vosso canto,
Se ele chora, vós cantai.
Estribilho.[1]
Não choreis, não meu Menino,
Não choreis, lá, lá, lá, lá.
Que de vos ver chorar, choro,
E morrerei de chorar.
Coplas.[2]
Meu Menino,
'Tá meu bem, não choreis mais;
Que é bem, que por nosso bem
Não padeçais tanto mal.
Deixai-o chorar,
Pois se nos dá quanto chora,
Não chora quanto nos dá.
Meu Menino,
'Tá meu bem, não choreis mais;
Que tendes ricos tesouros,
Que os reis vos vêm ofertar.
Deixai-o chorar,
Pois se ouro fino lhe dão,
Ricas pérolas quer dar.
Meu Menino,
'Tá meu bem, não choreis mais;
Porque os reis feitos vassalos
Por seu rei vos vêm jurar.
Deixai-o chorar,
Porquanto outro rei tirano
A vida lhe quer tirar.
Meu Menino,
'Tá meu bem, não choreis mais;
Se chora quem não tem culpa,
Quem tem culpa que fará?
Deixai-o chorar,
Que quem paga o que não deve,
Mui bem deve assim pagar.
Meu Menino,
‘Tá meu bem não choreis mais;
Que é bem não mostreis pesares,
Quando amor vindes mostrar.
Deixai-o chorar,
Pois quem deveras padece,
Só deveras sabe amar.