Poemas e Canções (Vicente de Carvalho, 1917)/Arrufos/I
Dizer mal das mulheres e costume
De todo o amante que não foi feliz:
Um coitado mordido de ciúme
Tudo maldiz, e se maldiz...
Pois confesso que nisso se resume
O que fui, o que fiz.
Julguei mal a que adoro, e que me adora
E as mulheres, por pérfidas e vis,
A todas condenei de foz em fora...
Fui infeliz... Sou infeliz
Pois com remorso reconheço agora
O que fui, o que fiz.
Quem se acredita amado se conforma
Com o poder dos encantos feminis:
Tudo explica e desculpa, de tal forma
Que... Tu sorris? Por quê? Sorris
De uma vontade que tomei por norma
No que fui, no que fiz.
Porque abrolha em espinhos a roseira
Quem negará que as rosas são gentis?
Do teu encanto de mulher faceira
Ninguém dirá - e ninguém diz
Que é coisa sem valor, que se não queira...
E assim fui no que fiz.
És tão linda! Eu adoro-te. És tão boa!
Finges tão bem o amor, que o que eu não quis
Quero agora. Que bem pus fora à toa!
Fui imbecil...Aos imbecis
É caridade perdoar... Perdoa
No que fui - o que fiz.
Seja fingido embora o teu agrado,
Agrada-me! Os teus modos infantis
Me dão a idéia de que sou amado.
Nasceste atriz...És boa atriz...
Choras?... Isso me deixa consolado
Do que fui, do que fiz.