Poemas e Canções (Vicente de Carvalho, 1917)/Cantigas praianas/II
Aspeto
É tão pouco o que desejo,
Mas é tudo o que me falta,
Só por que a flor do teu beijo,
Pende de rama tão alta...
Ninguém sabe o que suporta
O mar que chora na areia
Por essa tristeza morta
Das noites de lua cheia:
Embaixo o pranto das águas,
Em cima, a lua serena...
E eu pensando em minhas mágoas,
Ouço o mar, e tenho pena.
Meu amor é todo feito
De neblina tão cerrada,
Que por mais que em roda espreito
Só te vejo a ti, mais nada.
Ai, minha sina está lida,
Meu destino está traçado:
Amar, amar toda a vida,
Morrer de não ser amado.