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Poesias (Bernardo Guimarães, 1865)/Cantos da solidão/Ao leitor

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AO LEITOR. [1]

Temos o prazer de offerecer ao publico, e particularmente á mocidade academica, as producções poeticas de um de nossos irmãos de lettras, que ao separar-se de nós legou-nos esses cantos melodiosos, como se fosse um adeos de despedida, e uma ultima lembrança de seu viver de outr’ora; — é o testamento do coração ao terminar-se a vida descuidosa de mancebo; — é o derradeiro olhar do viajante ao deixar as praias deleitosas de um paiz encantado, para expôr-se aos azares de uma longa peregrinação por mares tempestuosos; — é a balisa que servirá de assignalar-lhe essa quadra risonha da existencia, que, ainda depois de volvida, inspira-nos recordações tão deliciosas, como os aromas da patria que auras propicias levassem aos ermos do exilado.

Para nós os — CANTOS DA SOLIDÃO — significão alguma cousa mais: — a naturalidade com que são escriptos e esse perfume de tristeza e sentimentalismo que elles exhalão bem provão não serem essas poesias uma creação puramente artistica; — ellas são a linguagem harmoniosa de uma alma poetica e inspirada, que se expande melancolica e suave como a luz de pallida estrella, — sentida e queixosa como as derradeiras notas de longinqua melodia em horas de repouso.

— E’ a voz sympathica do coração que falla aos corações, e que sabe fazer-nos sorrir com seus prazeres, e entristecer-nos com seus queixumes.

  1. Este prologo é dos Editores da 1a edição.