Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/A' minha Patria

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A' minha Patria.
 


Ergue a frente orgulhosa, Patria minha,
Não temas d'outros Reinos a grandeza;
Não temas, que seus feitos offuscar-te
Possão na intrepidez, honra, e nobreza!

D'Albuquerque as façanhas cantaria,
Dos Gamas, de mil nobres infanções,
Se nos cantos divinos não tivera,
Seu valor exaltado o grão Camões!

E repetindo aqui o canto heroico,
Que mais eleva o Solio Portuguez,
Direi como o poeta, aqui narrando
Os inspirados versos, que elle fez:

«Cessem do sabio Grego, e do Troyano
«As navegações grandes, que fizerão:
«Cale-se de Alexandre, e de Trajano
«A fama das vitorias, que tiverão:
«Que eu canto o peito illustre Lusitano,
«A quem Neptuno, e Marte obedecerão,
«Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais allo se levanta.»

Portugal, Patria minha, que ufania,
Não sente o coração em pertencer-te!
Com braço de mulher não tenho a gloria
D'uma espada empunhar, e defender-te;

Não me cabe essa gloria; mas em troca,
Os meus cantos acceita filiaes;
Sem arte, e tão singelos, que só valem
Porque são verdadeiros, e leaes.