Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/A uma senhora a quem morreu uma filha

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A uma senhora a quem morreu uma filha querida.
 

Não sabe o que é padecer
Quem o filhinbo, que adora,
Não viu ainda morrer.

GARRET.


 

Que me resta cá na terra?...
A minha filha morreu !
Para mim o mundo inteiro
Seus encantos já perdeu!

Era pura como os Anjos,
Fresca, e bella como a rosa,
E das fórmas á belleza
Juntava uma alma bondosa.

Ah inda julgo illusão
A minha filha morrer!...
Em toda a parte m'a faz
A fantasia appar'cer!

Quando ao Céo ergo meus olhos,
Vejo-a lá entre as estrellas;
Mas tão linda e magestosa,
Té offusca o brilho d'ellas

Vi-a em sonhos appar'cer-me,
Qual celeste Cherubim:
Como o sol resplandecendo,
E sorrir-se para mim.

Estendi para ella os braços,
Quiz unil-a ao coração;
Mas desperto em sobresalto,
Desappar ceu a visão!...

Que me resta ?.. pranto, e dôr !
Uma infinita saudade,
Que 'spero não tenha fim,
Se não lá na eternidade!..