Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/Ao pôr do Sol

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Ao por do Sol.
 

Como está socegada a natureza,
N'est' hora tão fagueira ao pôr do sol!
Das collinas lá descem os pastores,
O manso gado alegres conduzindo ;
D'acolá se despenha cristalino
O ribeiro, que ao lago vae perder-se;
Contente o camponez na choça guarda
As searas, que o eslio produziu,
E do fertil Outono sazonados
Os doces fructos colhem os infantes :
D'uma cabana junto, mais álem,
As finezas d'amor ouve gostosa
Ao aldeão a joven camponeza;
Sobre um banco de relva recostado.
Ensina o velho ao neto pequenino,
D'Ave-Maria a angelica oração:
Mais contente, que um rei no solio seu,
Lá desce da montanha o caçador,

Affagando o rafeiro, que uma parte
No prazer da caçada houve tambem ;
Entre copadas arvores s'escondem
As aves, que cantando se despedem
Do dia, que findou e mais não volta.

Que magestade offrece a natureza,
Onde tudo é saudade e poesia!..
Approxima-se a noule, e já desertos
Os outeiros e bosques se divisam;
Das fadigas do dia descançar,
Nos braços de Morpheu em sonho meigo,
Em breve irão d'aldea os camponezes;
Só eu aguardo a noute solitaria !
Da lua espero a luz branda, e fagueira,
N'abobada celeste a scintillar,
Mil estrellas radiantes amo ver;
Aspirando da brisa o fresco sopro,
Agrada-me da noute a solidão,
E o murmurio ouvir da fonte pura,
D'antiga torre á beira esvoaçarem
Rssas, que piam agoureiras aves;
E na fronte escondida quando a aurora,
As lagrimas verter refrigerantes,
Filtrando o coração, após ás veias,
Este sangue abrasado acalmarão!..
Cançada de velar, então Morpheu,
Repouso me dará nas leves asas!