Poesias offerecidas ás senhoras Portuenses/O Pastor
Não tenho mais, que a chóça, que um rebanho
E vivo aqui feliz, pobre, olvidado;
Não possuo palacios, nem grandezas;
Mas a vida com paz tenho gozado:
Dos grandes o favor sem mendigar,
D'elles vivo distante, independente;
Quer se elevem ou caião, minha sorte
Nunca esteve da sua dependente:
Sem ambições, humilde, não receio
Os revéses do Fado caprichoso;
Só aspiro lograr d'uma pastora
O rosto encantador, dino, e formoso!
Tem olhos negros
D'enfeitiçar,
A scintillar
Como as estrellas;
Do collo bello,
Alabastrino
Cae d'ouro fino
Lindo cabello.
Mil Amorinhos
Em torno d'ella,
A face bella
Querem beijar;
Mas ella foge,
Receia amor,
E seu rigor
Téme provar.
Quer só no prado,
Com mão formosa,
Colher a rosa,
Ornar a fronte,
E sem demora
Chamar o gado,
E do outro lado
Subir ao monte.