Ponderação das lágrimas de Anarda

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Suspende, Anarda, as ânsias do alvedrio,
Quando a fortuna cegamente ordena
Essa dor, que dilatas pena a pena,
Esse aljôfar, que vertes fio a fio.

Se és dura rocha no rigor impio,
Se és br brilhadora luz na fronte amena;
A triste chuva de cristais serena,
Da sucessiva prata embarga o rio.

Mais ai, que não depões o sentimento,
Para que em ti padeça rigor tanto,
Se tens meu coração no peito isento.

De sorte, pois, que no amoroso encanto
Avivas em teu peito o meu tormento,
Derramas por teus olhos o meu pranto.