Por Um Fio

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Heloísa Thompson Gomes era uma das encarnações mais encantadoras do Diabo. Pequenina, graciosa, cabelos de ouro finíssimo, possuía a boca do tamanho de uma cabeça de dedo polegar, e nesse pequeno cofre de pelúcia vermelha, umas pérolas miudinhas, roubadas de algum colar maravilhoso.

Caixa de um estabelecimento comercial na Rua Sete, tornara-se o principal atrativo da casa. Ao regressar do almoço, em uma pensão da Rua São José, trazia sempre seis, oito, quinze fregueses, na sua esteira, em verdadeira perseguição. E cada freguês era, na certa, uma gravata, um par de punhos, uma dúzia de lenços, que a casa vendia.

Certo dia, a Heloísa demorou mais, no almoço. Ao voltar, estava tão vermelha, que parecia congestionada. Quando quis abrir a "caixa", as mãos tremiam-lhe, como se acabasse de tomar um susto. De tal modo era, enfim, a sua transformação, que as companheiras, à saída, indagaram o motivo daquele nervosismo.

— Ah, meninas! — exclamou a rapariga, como quem deseja desafogar. — Bem se diz que a virtude da mulher está, sempre, por um fio! Agora é que eu compreendo.

— Tu?

— Eu, sim. Vocês não conhecem aquele tenentinho moreno, bonitinho, que vai sempre comprar gravatas na loja? Pois, bem; eu me deixei arrastar por ele, e fui, hoje, visitá-lo. Foi uma loucura. Felizmente ele é mais fraco do que qualquer uma de nós, o fio do meu colete deu nó, e ele não pôde, de modo nenhum, arrebentar!

E num estremeção brusco:

— A minha virtude esteve, hoje, por um fio!...