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A ESTRELLA DO SUL

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Cypriano teimou, demorou-se sempre com a esperança de que viesse uma aberta que lhe tornasse livre os vastos horizontes que elle anceava observar; foi inutil. A proporção que o dia declinava, parecia augmentar a espessura das nuvens, e quando começou a anoitecer havia positivamente chuva.

E assim se achou o joven engenheiro surprehendido por aquelle prosaico meteoro exactamente no cume de um plató desabrigado, sem uma unica arvore, sem um penedo onde se podesse acoutar. Nada mais senão o chão escalvado e ressequido, e em torno a noite que crescia, acompanhada por uma chuvinha miuda que pouco a pouco ía atravessando a manta, o fato, e chegava até á pelle.

A situação tornava-se critica, e comtudo era preciso acceital-a. Effectuar a descida em taes condições seria loucura. Cypriano resolveu-se, pois, a deixar-se molhar até aos ossos, esperando que no dia seguinte se seccaria aos raios de um sol benefico.

Passados os primeiros momentos de commoção, Cypriano disse de si para si que aquella chuva, — banho refrigerante, que o alliviava da seccura dos dias precedentes, — não tinha nada de desagradavel; mas uma das suas consequencias mais penosas foi obrigal-o a comer o jantar, se não cru, pelo menos frio. Accender o lume ou mesmo um phosphoro com similhante tempo, nem pensar em tal era permittido. Cypriano Méré contentou-se, pois, com abrir uma lata de carne estofada e devorar o seu conteúdo debaixo d'aquella forma elementar.

Uma ou duas horas mais tarde o joven engenheiro, entorpecido pela frescura da chuva, conseguiu adormecer com a cabeça encostada a uma pedra coberta com a manta encharcada. Quando despertou com o dia tinha febre violenta.

Comprehendeu que estava perdido, se tivesse de continuar a receber aquelle banho, — porque a chuva não cessava de