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VIAGENS MARAVILHOSAS

Só um dos pretos, que apresentava physionomia intelligente e fina, — o mais novo d'elles, ao que parecia, — tinha posto alguma moderação na satisfação da sua devorante. E, o que é mais extraordinario ainda, lembrou-se de agradecer ao seu bemfeitor, cousa em que os outros não pensaram. Abeirou-se de Cypriano, pegou-lhe na mão com um impulso singelo e gracioso, e em seguida passou-a pela sua encarapinhada cabeça.

— Como te chamas? perguntou-lhe à ventura o joven engenheiro commovido por este signal de gratidão.

O cafre, que por acaso percebia algumas palavras de inglez, respondeu immediatamente :

— Matakit.

Cypriano ficou agradado do olhar puro e cheio de confiança do preto. Veiu-lhe então a idéa de contratar este rapagão de forte organisação para trabalhar no seu claim, e essa idéa era boa.

«No fim de contas, disse elle comsigo, é o que toda a gente faz no districto! Mais vale a este pobre cafre que seja eu o patrão d'elle do que ir caír nas unhas de um Pantalacci qualquer ! »

E depois, continuando a fallar, perguntou-lhe :

— Dize-me cá, Matakit, vens procurar trabalho, não é verdade!

O cafre fez um gesto affirmativo.

— Queres trabalhar commigo! Dou-te o sustento e instrumentos, e pago-te vinte chelins por mez.

Era a tabella, e Cypriano bem sabia que não podia offerecer mais sem excitar contra si todas as coleras do acampamento. Mas já ia fazendo tenção de completar aquella mesquinha remuneração com presentes de fato, de objectos de uso domestico e de tudo o que elle sabia que os cafres estimavam mais.

Por unica resposta Matakil sorriu-se, mostrando duas filei-