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A ESTRELLA DO SUL

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ras de dentes brancos, e tornou a pôr na cabeça a mão do seu protector. Estava o contrato assignado.

Cypriano levou immediamente comsigo o seu servo. Escolheu na mala uma calça de linho, uma camisa de flanella, um chapéu velho, e deu-os a Matakit, que mal podia crer em tanta fortuna. Ver-se vestido com tão esplendido trajo, mal tinha chegado ao acampamento, era cousa que excedia muito os mais atrevidos sonhos do pobre diabo. Não sabia de que modo manifestasse o reconhecimento e alegria. Pulava, ria, chorava ao mesmo tempo.

— Pareces-me bom rapaz, Matakit, disse Cypriano. Vejo que entendes alguma cousa de inglez... Não poderias dizer algumas palavras?

O cafre fez um gesto negativo.

— Pois uma vez que assim é, proponho-te que aprendas francez, replicou Cypriano.

E sem mais detença deu a primeira lição ao discipulo, indicando-lhe os nomes dos objectos usuaes e fazendo-lh'os repetir.

Ora aconteceu que Matakit era não só um bom rapaz mas tambem um espirito intelligente, dotado de memoria verdadeiramente excepcional. Em menos de duas horas tinha aprendido mais de cem palavras e pronunciava-as com bastante correcção.

O joven engenheiro, maravilhado de tal facilidade, logo fez tenção de a aproveitar.

Foram necessarios sete ou oito dias de descanso e sustento substancial para que o joven cafre podesse refazer-se das fadigas da viagem e ficar em estado de trabalhar. Ora esses oito dias foram tão bem empregados pelo professor e por elle, que ao cabo da semana Matakit já estava habilitado a enunciar as suas idéas em francez, — de um modo incorrecto é verdade,