Página:A cidade e as serras (1901).pdf/132

Wikisource, a biblioteca livre
118
A cidade e as serras

eu curvava os hombros, humilde, no arrependimento de ter affrontosamente ultrajado o Principe que tanto amava. Desventurado Principe! Com o seu dourado cigarro d’Yaka a fumegar, errava então pelas salas, lenta e murchamente, como quem vaga em terra alheia sem affeições e sem occupações. Esses desaffeiçoados e desoccupados passos monotonamente o traziam ao seu centro, ao gabinete verde, á Bibliotheca d’ebano, onde accumulara Civilisação nas maximas proporções para gozar nas maximas proporções a delicia de viver. Espalhava em tôrno um olhar farto. Nenhuma curiosidade ou interesse lhe sollicitavam as mãos, enterradas nas algibeiras das pantalonas de sêda, n’uma inercia de derrota. Annulado, bocejava com descorçoada molleza. E nada mais instructivo e doloroso do que este supremo homem do seculo XIX, no meio de todos os apparelhos reforçadores dos seus orgãos, e de todos os fios que disciplinavam ao seu serviço as Forças Universaes, e dos seus trinta mil volumes repletos do saber dos seculos — estacando, com as mãos derrotadas no fundo das algibeiras, e exprimindo, na face e na indecisão molle d’um bocejo, o embaraço de viver!